Capítulo XVII- O Faust
Naquela noite Marcelo estava preso. Prometera à Luíza não tentar nada. Será que cumpriria? Talvez não. Se alguém conseguisse observar e ser atento a tudo nem assim poderia descobrir tudo em si mesmo. Ah incógnita surreal! Marcelo era uma dessas equações que desafiam até mesmo os matemáticos. Disse-me certa bacharel em matemática uma vez: a vida é uma equação inexata.
Marcelo obrigou-a a dormir no mesmo quarto que ele. Logo ela não quis. Pediu para voltar para o seu hotel. Ele argumentou de preâmbulo que seria perigoso ela dormir sozinha. Prometera então não tentar nada. Não tentou porque penso que sei o final do capítulo. Não sei, os capítulos ganham vida, asas e independência...
Claro que Marcelo tinha cuidado. Isso nem o capítulo pode negar, já que este menino audacioso e teimoso tem o nariz em pé. Cuidado ele tinha. Mas a queria perto de si. Queria Luíza como um pequeno violinista quer o seu violino. Queria ter essa menina do seu lado para que pudesse apresentar aos seus amigos de farra e dizer: “Aí ‘cara’, essa é minha namorada, Luíza, pianista e violonista”. Aspirava a ser esse coloquial apresentando o sublime do clássico.
Marcelo conseguira um colchonete com algum dos empregados do hotel, comprara ou fizera qualquer coisa. Tudo vale a pena se a alma não é pequena! Belo trecho de Pessoa.
– O que você está fazendo? – Marcelo repreendia Luíza que tentava forrar o colchonete no chão como quem pretende dormir nele.
– Forrando o colchonete para dormir... – ela ficou perplexa com aquilo.
– E quem te disse que eu ou permitir que você durma no chão? Você vai dormir na cama!
– Não, aqui está ótimo! Você é que não pode dormir no chão, Marcelo!
– Eu sou normal igual a todo mundo, Luíza! E além do mais eu não vou permitir que o ser mais belo desse mundo durma no chão!
Ele a beija. Ela tenta impedir mas o calor daquele momento era mais forte. Marcelo, durante o beijo coloca a mão dela em cima do seu ombro. Para ele, naquele momento só existiam ela e ele.
Mais uma vez ela quebra aquele momento. O amor é uma loucura que, quando se fica louco, nunca mais se é normal.
– Eu não posso, Marcelo!
– Pode sim, Luíza! Pode sim.
– Você é rico e eu sou pobre, não daria certo!
– Eu não me importo com isso!
Discutamos uma coisa! Ou não dependendo da tinta da caneta... a beleza e a feiúra, a riqueza e a pobreza. Por que o que se é feio ou pobre é ruim? Por que o ruim é mau? Por que o ruim é ruim? Por que a sociedade assim ensinou. São convenções lingüísticas, filosóficas e morais da sociedade em relação à vida.
Se o texto tem foco narrador-observador é porque a prosa tem que ser uma conversação com o leitor. No mais o leitor sempre entende o motivo. Ele é obtuso mas é resoluto. Mas deixemos Machado de Assis no final do século XIX presidindo a Academia Brasileira de Letras.
E valores conservadores, deixemos?
Eliene estava louca! Marcelo havia sumido completamente. Na televisão passava a ascensão à Presidência norte-americana de Barack Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Eliene liga a televisão.
– Agora é que “tá” de mais, um “preto” sendo eleito presidente, veja só!
Um pouco mais tarde, a noite era bela. Luíza também. Bela e débil, bem no estilo romântico na sacada. O Rio de Janeiro- a cidade maravilhosa, bela perífrase gramatical, e suas praias. Estudar as mulheres é muito mais difícil do que estudar gramática, ou geometria analítica. S o que é difícil é culto, elas são seres cultos. Não se pode chamar um ser como esse de sexo frágil só por parecer tênue. A vida sim é tênue.
– Você teve uma infância triste, não é mesmo? – Marcelo estava atrás de Luíza.
– Muito triste. – Ela responde com uma voz suave.
– Conta pra mim, – Marcelo aspirava àquele momento – pra mim a sua vida interessa muito!
– Perdi os meus pais bem nova! – uma lágrima cai de sua face. – Eles foram esquartejados!
– Esquartejados! Nossa...
– A vida tem sido ríspida. Eles deviam a um agiota muito perigoso.
Ele parecia sensibilizado.
– Eu só não fui esquartejada porque estava debaixo da mesa. – faz um silêncio, estava chorando.
Ele a vira. Limpa-lhe a lágrima na face. Eles se olham.
– Você é uma grande menina. – Deita a cabeça dela em seu ombro. – Uma linda e doce menina.
Este texto mais parece um ensaio literário sobre um livro chamado VIDA. Ele a queria para si. Mas sim! Ela também o queria. E eram duas ínfimas crianças diante do universo.
– Luíza, eu nunca senti isso por alguém! – levanta o rosto dela para ver aqueles olhos verdes. – Eu posso estar louco dizendo o que eu vou dizer, mas... EU AMO VOCÊ!
Os olhos dela brilham. Ele a beija. E a noite passa, menina ainda. No chão Marcelo acorda às nove da manhã. Está seminu, sem camisa. Luíza não está na cama. Ele pertuba-se. Na cama estava um bilhete que dizia mais ou menos se não me falta a memória:
“Marcelo, desculpe por eu ser infeliz! A vida me presenteou você, um lindo presente, mas tenho medo que a minha tristeza estrague esse presente. Por isso fugi. Também temos medo do que amamos e temos medo de machucar. Por isso fugi.
Porque amo você!”
Ele fica cético sobre o que tinha lido.
– Eu preciso encontrar essa garota! – estava ludibriado. – Agora! Ou vou perder pra sempre o grande amor de minha vida!
Pegou o seu utilitário esportivo e saiu como em filme de ação: “cantando pneu”. Freud explica!
No carro vêm-lhe as reminiscências do concerto que ela dera. Estava linda! Assim como seu solo. Como pudera errar tanto sobre o caráter de um ser humano? Qual criatura era Luíza! Bela virtuose era ela!
terça-feira, 7 de abril de 2009
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