segunda-feira, 13 de abril de 2009
Capítulo XVIII- Completo
ESCREVER NO SÉCULO XXI É UM DESAFIO QUANDO SE CONFUNDE ESTILO LITERÁRIO COM TEMPO LITERÁRIO. EU ME CONSIDERO UMA MISTURA DE REALISMO, ROMANTISMO E MODERNISMO ESCREVENDO.
LEIA ALGUNS CAPÍTULOS DO MEU LIVRO "QUEIMA DE ARQUIVO".
Capítulo XVIII- Freud explica!
Luíza estava em Itabuna. Planejava fugir de lá o quanto antes. Foi a um banco na Avenida Cinquentenário.
– Sinto muito, senhora, não há nada aqui na sua conta! – no caixa, trêmula, Luíza ficou horrorizada. – O que há aqui é um débito de 3.500 reais.
– Meu Deus! Não pode ser...
Luíza foi até à agência bancária tentar resgatar o pouco dinheiro que havia guardado numa poupança. Mas algum bandido desviou esse pouquinho de dinheiro que lhe sobrava e com o qual ele iria fugir para sempre do seu Marcelo e das coisas que a perturbavam na sua boa Itabuna. O que restaria? Ir para Ilhéus? Ilhéus, uma belíssima cidade de praia, terra de Gabriela e seu Jorge, um homem amado no lugar.
Mas agora o que ela tinha era um débito de três mil e quinhentos reais.
– O que a senhora vai fazer? – pressionava o homem.
– De quanto é mesmo o débito? – era Marcelo, os olhos de Luíza brilham.
– 3.500 reais, senhor!
– Marcelo, por favor, não! – Luíza tenta impedi-lo falando elipticamente.
– Quanto havia na conta?
– 700 reais.
– Abata a dívida e transfira 10 mil reais para a conta dela! – dava um cheque à moça do guichê!
– Não, moça, por favor, não faça isso! – a mulher já estava prestes a realizar o processo. – Marcelo– continua ela – isso não é certo.
– Pode ir, moça, não a ouça! – a atendente então finaliza o processo enquanto...
– Você não deveria fazer isso!
– Deveria sim, Luíza! Deveria! Você é minha e eu não vou deixar você fugir de mim nunca mais!
A moça entrega-lhe o cartão.
– Obrigado.
Pulemos detalhes que só a vida sabe descrever bem pois essa escritora é a mais destra de todas as virtudes. No carro Luíza mantivera-se taciturna. Sua taciturnidade devia-se à salvação do seu belo Marcelo.
– Você não sabe o quanto eu quero você! – Marcelo segura o rosto dela. – E um crime nos uniu. Aquele – titubeia ele – bilhete era só pra não me deixar triste ou era verdade? – deviam estar estacionados próximos a alguma praça de Itabuna. Há quem diga que era a José Bastos. – Você... – ele olha para ela, procurando-lhe a resposta nos olhos. – me ama?
Ela abaixa a cabeça. Há um silêncio perspicaz. Ela levanta a cabeça e olha Marcelo, sério. Chorou, por mais que não quisesse, por mais que não quisesse sentir, chorou. Às vezes o silêncio conversa mais do que o barulho. Com lágrimas então, se quisesse ela, não precisaria responder.
– Sim! – Os olhos de Marcelo brilhavam.
A cena é de uma pureza fatídica.
– Desde a primeira vez que eu vi você, eu... não pude mais esquecer. – um silêncio fê-la calar a boca, a alma continuava tagarelando. – Sofri muito por ver que, além de rico, você nem observava em mim. Decidi então tentar esquecê-lo.
O silêncio reluzia despudorado.
– Aí eu percebi você!
– E acabou me ferindo!
– Desculpa, eu não tinha o direito de tentar comprar você pra que fosse para a cama comigo! Eu amo você, Luíza e é o que importa. Fica comigo!
– Mas você é rico e eu sou pobre, Marcelo!
– Quem disse que eu me importo, Luíza! Eu não me importo com isso, o amor não respeita classe social, Luíza!
Será realmente que o amor existe. Fico-me cá a pensar... estrelas também existem assim como romances confusórios.
– Mas, e a Eliene? Ela gosta de você!
– A Eliene é louca! Ela é doente! Em pensar que eu cheguei a confundir amor com ódio – limpa a lágrima do rosto dela. – Você é minha, Luíza!
Ele a beija. Desta vez o beijo é mútuo. Há uma boa permutação de sentimentos. Eles amam-se e, não compreendem também o amor.
O amor, deem-me licença os que dizem não serem céticos, é uma equação inexata, irracional. Quando se ama se é uma incógnita, o xis da questão.
– Eu quero você para sempre! – ele estava encantado. – Minha pianista! Você é minha, agora!
Ela sonhava.
Tocava para ele Traumerei de Schumann. Vestia um enorme e elegante vestido de seda negra.
Ele olhava-a ludibriado, subjugado. O conto de fadas dela acaba ao som do “devaneio musical” nos olhos verdes dele.
– Será que vai dar certo... eu tenho medo.
Ela estava realmente insegura. Eu também o estou neste romance pra mortais.
– Eu tenho medo, Marcelo! – repete a menina.
– É um dos mais sinceros sentimentos humanos, meu amor!
Ela era dele e este capítulo é meu. E eu quero que ele acabe.
***
No centro da cidade a polícia varria mais uma vez os camelôs da Avenida Cinquentenário. No Bairro de Fátima, nos bares, a classe média comprava e usava drogas em pleno dia.
Na Avenida Beira Rio Marcelo dirigia com seu grande amor do lado.
– Vamos tomar um sorvete? – diz ele.
– Eu estou um pouco enjoada.
– Ah, por favor, Luíza! Tudo bem que você não quer ser minha, mas toma um sorvete comigo não é nada de mais.
– Certo, Marcelo.
Na realidade ela estava ainda muito insegura em relação ao futuro. O futuro é uma criança que estamos levando no colo. Cresce bem rapidamente essa criança com suas peripécias gostosas ou não.
Ela olha para ele. Tinha confiança nele mas sentia-se bem insegura diante daqueles acontecimentos. Como seria de agora para frente? Não podemos detalhar esta precoce criança chamada futuro. Enquanto nós, Luíza ou Marcelo, somos e seremos sempre precoces desde que haja presente, passado e futuro. O próprio futuro, vede, está precoce nesta história.
Quem teria matado Noelma, se não Marcelo? Como explicar a cena que ele estava com a arma apontada para Noelma no chão? O futuro responderá. O futuro é uma criança que estamos carregando no colo, o passado é um gigante idoso, eufemístico e redundante que só; o presente somos nós.
Doravante viveriam eles uma história de amor? Ele, não tão diferente, estava sonhando. Tal como quem o escreve. Era uma criança naquele momento. Uma bela história de amor aqui se começa a contar: a história de um rapaz rico que se apaixonou por uma jovem pobre, fora do seu contexto de filosofia que lhe pôde ensinar um pouco mais sobre a vida do que pressupôs saber.
– Fica comigo – pedia ele.
Aliás suplicava para não ser minimalista, do que os autores de novelas escritas a punho são acusados.
– Será que vai dar certo, Marcelo? Você é rico e eu sou pobre!
Ele agonia-se com aquela repetição de valores. Tudo é resultado de sua criação. Na de Luíza talvez tenha entrado, bom e inédito leitor, a parte de que classes sociais não possam realizar uma mistura. O que é vigente nesta aldeia de seres orgulhosos.
– Você quer que eu deixe toda a minha riqueza para viver com você, Luíza? Eu deixo tudo, meu amor!
– Não é isso, Marcelo! Eu estou tão insegura!
– Você não continua achando que fui que eu matei a Noelma, não é?
– Claro que não, Marcelo! Mas se o assassino fica com mais ódio de nós dois?
– Ele vai se dar mal porque eu sou um dos homens mais seguros que existem. Ando muito bem armado, tenho os melhores homens...
Modéstia era um bichinho gordo e, infelizmente, para a tristeza de Platão, grego. Que ele era bem armado, não se podia negar. Adorava armas . Seu pai tivera uma coleção de armas de todos os tipos. Ele, por sua vez, continuava a tradição: Smith Wesson, Winchester, 380, k-47, M-16, 9 milímetros, Colt, etc.
Chegaram então à sorveteria que se não me mente a inspiração era na praça Olinto Leone, de frente para o Rio Cachoeira.
Tomavam o sorvete e conversavam. Ela convidou-o para tomar o sorvete fora da sorveteria. Ele preferiria ficar preso a convenções a ceder a paradoxos. Mas ainda assim aceita.
– Fica comigo!
Ela tenta responder de uma maneira educada. Um beijo cala a sua voz meiga e suave. Um beijo correspondido e que dura alguns poucos minutos. Eram ambos jovens, unidos por um acaso de um assassinato, feitos um para o outro.
O beijo e o silêncio mais uma vez querem calar este capítulo. E dão o veredicto. Data vênia!
Uma amiga de escola de Luíza passa e a vê.
– Luíza, quanto tempo!
– Muito, Ana!
– Não acredito, esse daí é o Marcelo Fontana, aquele milionário que se mudou para Itabuna faz pouco tempo?
– É. – Luíza responde tímida pela exposição diante de sua amiga.
A garota não perde tempo e logo cumprimenta-o, pede-lhe um autógrafo e tira uma foto perto dele e de Luíza. Ao sair ainda diz: “Me convida pro casamento, Luíza!”
Ás vezes por mais que tentemos, tem coisas que fogem o nosso domínio mesmo quando parece que temos o domínio sobre elas. Tal é este capítulo. Tem vida própria.
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Um comentário:
OLÁ, VISITE-ME SEMPRE E ESTEJA À VONTADE PARA COMETAR.
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Olá você que me visita. Comente aqui o que achou dessa postagem. Bem, como vê o romance ainda não está pronto, mas já parece um paradoxo. Comente abaixo, então!